Aceitei integrar a presente lista por
entender encontrarmo-nos num momento crucial de definição do estatuto do
Ministério Público e do futuro da magistratura na qual ingressei, por
paixão, há mais de 17 anos. A tão propalada vivência actual de uma
situação de “crise económica" tem vindo a justificar a adopção de
políticas com potencial erosivo das estruturas basilares do
estado de direito social e democrático consagrado pela Constituição
da República vigente. Porque a Justiça e, em especial, o Ministério
Público e a sua autonomia não estão a salvo de medidas de retrocesso
democrático neste contexto histórico.
Porque a discussão político-legislativa
das alterações ao E.M.P foi realizada pelo SMMP sem a auscultação directa dos
Magistrados do Ministério Público, num contexto de secretismo que nenhuns
objectivos de eficácia (nomeadamente no plano de obtenção de regalias
remuneratórias que não se encontram minimamente
garantidas) justificam.
Porque a confusão entre o SMMP e o CSMP
potencia um enfraquecimento do papel do Sindicato enquanto
organização de profissionais hierarquicamente subordinados.
Porque acredito num Sindicato
descomplexado com a sua natureza e os elementos que integram esta lista –
muitos dos quais companheiros de outras lutas sindicais e profissionais – partilham
da mesma convicção.
Porque discordo de qualquer complacência
com a discriminação de remuneração entre magistrados da mesma categoria não
justificada, materialmente, numa maior complexidade ou especialização das
funções desempenhadas.
Porque o discurso do medo que crassa nos
leva instintivamente a conservar o mínimo – as condições remuneratórias –
fazendo-nos cegos àquilo que perdurará e é estrutural para o sistema
de justiça: o papel do Ministério Público na Justiça portuguesa.
Porque a falta de expressividade do
discurso do nosso Sindicato em matérias como o “crash” do Citius e consequências nefastas da reforma da
organização judiciária em matéria de acesso ao direito, em especial nas áreas
sociais do trabalho e da família, me causou estranheza e incómodo
pessoais ante a realidade caótica vivenciada.
Porque acredito que um discurso sindical
maduro, ainda que comprometido com objectivos estratégicos de luta para a
melhoria das condições da classe profissional que representa, não poderá nunca
ficar refém desses objectivos em detrimento dos valores democráticos
constitucionais, nomeadamente o acesso à justiça.
Porque acredito ser o Ministério
Público uma magistratura de causas mais do que uma mera categoria profissional.
Porque, trabalhando na área da
investigação criminal, nomeadamente na área da criminalidade
económico-financeira, percepciono como premente a defesa pública e mediática da autonomia
externa e interna do Ministério Público e seus magistrados e a
especial importância, neste domínio, de uma voz sindical activa,
conhecedora e convincente na defesa do papel crucial do Ministério Público na
luta contra a corrupção.
Porque acredito individualmente nas
pessoas que integram a presente equipa, na sua tenacidade e competência para
lutar por uma mesma causa.
Porque acredito na participação activa e,
sobretudo, na mudança e seu potencial construtivo.
Saudações sindicais!
Susana Figueiredo
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